sábado, 30 de outubro de 2010

Uma breve análise do Jornalismo

A busca por informações de acontecimento sociais, políticos e naturais é uma atividade que data desde a Antiguidade. Foi a partir dessa necessidade humana que houve a criação dos jornais. Quando falo jornais, nesse contexto, me refiro à transmissão de informação e não simplesmente ao modelo impresso de comunicação, pois, em um primeiro momento, as notícias eram transmitidas oralmente através de poesias, canções ou conversas rotineiras. Foi só a partir de 1440, com a invenção da impressa por Gutenberg que se tornou possível publicar acontecimentos atuais.
Os primeiros jornais datam de 1605, mas somente depois das Revoluções Industrial e Francesa é que nasce o Jornalismo Moderno. No entanto, tanto este quanto aquele, são muito diferentes dos jornais que conhecemos atualmente, tanto em forma como em conteúdo. Isso porque, com a evolução dos meios tecnológicos, da formação dos profissionais e da ampliação de recursos midiáticos, houve uma transformação no fazer jornalismo, bem como na figura que conhecemos como jornal.
 Inicialmente, jornal era uma forma impressa de transmitir notícia e jornalismo a atividade que divulgava acontecimentos. Atualmente, jornal é qualquer meio que transmita informação de relevância pública, podendo ele ser impresso, televisivo, radiofônico, digital, dentre outros; e jornalismo é a profissão que trata da apuração, edição e publicação dessas notícias.
Como conseqüência do surgimento dos novos meios, o Jornalismo está passando por modificações tanto nas técnicas quanto nos procedimentos necessários. Termos como “lead” e “objetividade” tornam-se alvos de discussões atuais.
Lead é uma expressão inglesa que significa “guia” ou “o que vem à frente”. Dentro do jornalismo, é entendido como a primeira parte de uma notícia, que fornece ao leitor as informações básicas do fato que será tratado.
Adelmo Genro Filho, em seu livro “O Segredo da Pirâmide”, faz uma crítica ao lead, na medida em que considera que os fatos noticiosos não devem ser narrados a partir dos acontecimentos mais importantes para os menos importantes, modelo conhecido como pirâmide invertida, mas sim dos seus aspectos singulares para os seus aspectos particulares. Na conceituação aceita, do particular para o geral, podem surgir notícias sensacionalistas e de pouca relevância. Exemplo é a matéria “Quadrilha que leva brasileiros para os EUA é presa”, publicada pelo jornal “O Tempo Online” em sete de dezembro de 2009. Nela, é descrito que foram presos integrantes de uma quadrilha que levava brasileiros para trabalhar irregularmente nos Estados Unidos. A notícia aborda a prisão da quadrilha a partir de informações básicas e não contextualiza o fato com a sociedade em geral. Não são expostas as possíveis causas que levam as pessoas a tentarem entrada ilegal em outro país, tampouco as prováveis conseqüências que elas poderão sofrer. O caso é tratado de forma isolada o que torna a notícia sensacionalista e de pouca importância pública.
Ivan Satuf, jornalista do Portal Uai e professor do Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix explica que o lead é uma técnica essencial para o jornalista dominar, principalmente em coberturas factuais. Satuf concorda com Adelmo Genro Filho, ao considerar mais atraente e interessante as matérias que não se constroem a partir do lead. No entanto, pondera que esse tipo de matéria acontece em textos com mais profundidade, como as reportagens, nos quais devido a maior disponibilidade de tempo e espaço, é possível se desprender do lead.
O jornalista do Portal Uai explica que na Internet e no rádio o repórter usa do lead como uma forma de manter a objetividade perante uma informação que acabou de acontecer e o pouco tempo que se tem para a publicação.
A referência que Ivan Satuf faz ao tempo, nos faz refletir sobre a influência que cada meio exerce no jornalismo. Nas mídias impressas, os redatores contam no mínimo com um dia para obterem informações necessárias sobre determinado acontecimento. Já na Internet ou no rádio, a publicação ocorre quase que simultaneamente ao fato noticioso, por isso pode nos parecer incompleta ou com informações desnecessárias. Mas é importante ressaltar que isso ocorre porque o redator está escrevendo sobre um fato inacabado.
A matéria “Quadrilha que leva brasileiros para os EUA é presa”, apresenta outros pontos importantes referentes ao surgimento das novas tecnologias. A única “fonte” utilizada na notícia foi a assessoria de imprensa do Consulado dos Estados Unidos em São Paulo. E podemos questionar se o repórter foi até essa “fonte”, o que é pouco provável, ou se recebeu a informação por email, telefone ou até mesmo através de outro site. Esse é um fator que muda com as novas mídias. Antigamente, para se ter acesso a determinado acontecimento, o repórter tinha que se locomover até o local e conversar pessoalmente com as pessoas envolvidas direta ou indiretamente ao acontecimento. Hoje em dia, basta um clique e o repórter tem acesso a uma infinidade de informações sobre determinado fato. Isto acabou modificando o fazer jornalismo negativamente, pois muitas vezes a “fonte” dos jornalistas, independente do meio, acaba sendo somente a Internet.
Ao mesmo tempo, a inovação tecnológica representa um ganho muito grande no fazer jornalismo, pois abre um leque de possibilidades tanto em conteúdo quanto em práticas colaborativas e de interatividade.
Ivan Satuf acredita que a inovação tecnológica está relacionada a uma das principais dificuldades dos jornalistas. Segundo o professor do Izabela Hendrix o mercado exige domínio completo das linguagens. Se antes cada profissional focava seu trabalho em um meio específico, hoje, independente do meio que o jornalista escolher trabalhar, ele vai ter que saber lidar com as outras linguagens. O professor pondera revelando que acha fascinante sair das amarras impressas e poder ter domínio total do processo jornalístico, desde a edição até a publicação.
A objetividade, entendida como imparcialidade e impessoalidade ao relatar informações, também é alvo de discussões entre comunicólogos. Gaye Tuchman escreve que a objetividade trata-se de um ritual estratégico a fim de minimizar os riscos impostos pelos prazos de entrega de material, processos difamatórios e reprimendas dos superiores.
Ivan Satuf concorda com a idéia de Tuchman, na medida em que considera imparcialidade e objetividade mitos.  Satuf afirma que o jornalista trabalha o tempo todo com recortes e estes são arriscados, pois é arrogante julgar que o jornalista sabe o que é importante pra todo mundo. “O local no qual o jornalista trabalha vai dizer muito sobre o enquadramento que ele faz de determinado assunto”, afirma Satuf.
O professor explica que nos meios jornalísticos existe uma linha editorial muito forte que delimita os limites. Satuf ressalta que, ao contrário do que muitos pensam, a linha editorial não é apresentada para o jornalista quando ele entra na empresa. É no dia-a-dia e através do tempo que o repórter percebe o modo de falar do jornal e os tipos de matéria que são ou não publicáveis.
Perante a uma infinidade de notícias, a própria escolha daquelas que serão ou não publicadas, está ligada a subjetividade. Satuf afirma que há uma hierarquização das notícias e isso ocorre independente do meio. Nos jornais presentes na Internet, por exemplo, por mais que não haja limitação física, a equipe de jornalistas é reduzida e tem que dar conta do mais importante dentro da linha editorial. Subtende-se que a técnica do gatekeeper, ao escolher aquilo que será ou não publicado, caminha em direção contrária à objetividade, por fazer a escolha de acordo com a “subjetividade” da empresa.
Não me proponho a dizer aqui se o lead é ou não a melhor forma de se estruturar uma notícia, tampouco se o Jornalismo é ou não objetivo. Mas é evidente que em pleno século XXI, e diante de um emaranhado de informações, é impossível que se faça jornalismo da mesma forma como antigamente. É improvável uma notícia que não reflita a implementação das novas tecnologias, a correria das redações jornalísticas e a agregação dos interesses políticos e comerciais.

Thalissa Maíra da Cunha Teodoro


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