terça-feira, 9 de novembro de 2010

O enterro dos tucanos

O dia 31 de outubro de 2010 não só entra para a história do Brasil pelo fato de termos eleito uma mulher (Dilma Roussef) como Presidente da República, mas também se torna uma data importante porque simbolicamente evidencia a semi-falência ideológica de um dos principais partidos conservadores do País: o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB).

 É inegável dizer que o PSDB, após o “Lulismo”, perdeu sua identidade junto aos eleitores e não soube fixar sua ideologia no cenário político atual. O resultado disso é que as propostas do partido não se adequassem aos interesses e necessidades de milhões de brasileiros, e sim de alguns poucos poderosos sempre beneficiados desde a não-nostálgica era FHC.

Sérgio Guerra, presidente nacional do partido tucano, perdeu devido a prepotência e a arrogância de ignorar os avanços sociais conquistados ao longo de oito anos do governo Lula. Guerra, que junto com sua coligação achou que o jogo ainda era o mesmo das eleições anteriores, transformou a oposição num reduto conservador, falsamente moralista e incapaz de entender o Brasil do século XXI. A derrota política significou não apenas um fracasso de projetos e um baque moral na estrutura do partido, mas também a perda de espaços e de capacidade de iniciativa de liderança.

O candidato derrotado do PSDB, José Serra, mostrou para seus eleitores um caráter autoritário. No auge do desespero durante a campanha, atacou para todos os lados, transformando até uma simples bolinha de papel (que acertou a cabeça dele durante uma passeata no Rio de Janeiro) no que seria “um ato pré-organizado por manifestantes fascistas”.

Fazendo uma campanha sórdida, sem precedentes na história das eleições presidenciais brasileiras, o PSDB não avançou com propostas decentes. Exemplo disso é a questão do aborto. Mesmo sem eleger Serra, conseguiu retroceder uma questão de extrema importância no Brasil: a da saúde pública. O que revelou também o perfil do tradicional eleitor tucano muito bem descrito pelo sociólogo Emir Sader: “Raspa-se um pouco o verniz da elite branca brasileira, fiel somente por interesses próprios a FHC e logo aparecem os piores preconceitos racistas e religiosos, recheados do mais puro falso moralismo já visto em uma campanha presidencial”, atacou.

Parte do eleitorado, por muitas vezes tido como reacionário, foi influenciado diretamente pela grande mídia que nas eleições de outubro de 2010 se transformou num verdadeiro cabo-eleitoral de Serra. O jornal Estadão assumiu publicamente, em editorial, seu apoio ao PSDB/DEM. Outros veículos, como o jornal Folha, a revista Veja e a TV Globo, preferiram manipular os ingênuos com uma falsa neutralidade.

Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores e uma única rede de televisão de alta qualidade técnica e até sensacionalistas tem a importância junto ao público assim como acontece no Brasil. Contudo, foram ineficazes os planos de desmoralizar a candidata petista. Dilma foi eleita derrotando a maior coligação dos grupos de mídia e sua campanha difamatória e preconceituosa. Definitivamente, o resultado é um avanço para o país.

Agora, com o insucesso dos tucanos (que são maioria nos governos estaduais, mas perdem no senado e na câmara) surge a oportunidade de uma nova proposta de enfrentamento na política brasileira: a de que a oposição liderada por PSDB/DEM seja engolida pela base aliada, e que uma oposição digna nasça dentro do próprio ventre petista. Aliás, é o que já vem acontecendo desde 2006, quando Heloisa Helena ajudou a criar do PSOL, e que ganhou força neste ano com a candidatura à presidência de Marina Silva (PV), ambas oriundas do PT.

Que a extinção dos tucanos políticos seja comemorada, dado como página virada, vencida e superada, pois só será lembrado de coisas que os brasileiros nunca sentirão saudades.

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Danilo Viegas – estudante de Jornalismo


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