segunda-feira, 15 de novembro de 2010

A mala falha: política e fé não se misturam

Um amigo me disse uma vez: “Estou certo que Jesus nunca se envolveu em três assuntos específicos: religião, economia e política”. Depois das eleições realizadas em outubro de 2010, passei a acreditar nisso também. Todo processo eleitoral é a mesma coisa: uma diversidade de líderes religiosos manifestou suas opiniões e crenças em relação à política e ao que seria melhor para o futuro do país.

Um episódio nessas eleições, em particular, me chamou a atenção. O pastor Silas Malafaia e a polêmica do aborto. No início da campanha eleitoral, o pastor chegou a declarar apoio à candidata Marina Silva (PV). Porém, logo em seguida, o pastor mudou de opinião e resolveu apoiar o candidato Serra (PSDB). Tudo porque a candidata Marina Silva declarou em um debate que a polêmica do aborto deveria ser resolvida com um plebiscito. Isso gerou desconforto ao pastor, que a acusou de dissimulação. Na visão dele, como a candidata é evangélica, deveria se opor peremptoriamente ao aborto e não ficar em “cima do muro”.

Na sequência dos fatos, o mesmo pastor declarou apoio ao candidato Serra. Mas o pastor se esqueceu de que entre outras coisas, o candidato Serra era a favor da união civil entre casais homossexuais, coisa que Malafaia também se opõe abertamente. Ele inclusive já participou de programas de televisão nos quais deixou claro sua oposição ao projeto de lei que trata do preconceito aos homossexuais.

Malafaia não parou por aí. Declarou que Dilma Rousseff (PT) perderia as eleições por apoiar o aborto, a acusou de ser partidária e a não dar suas opiniões pessoais em relação ao assunto. Ele afirmou que os cristãos, tanto católicos quanto evangélicos, não votariam nela por esse motivo. Não deu certo.

O pastor deveria entender um princípio básico da doutrina cristã: “Daí a Cesar o que é de Cesar e a Deus o que é de Deus”, ou, em outras palavras, Estado e Religião não caminham de mãos dadas. Malafaia, como líder religioso, se esqueceu da questão mais importante das eleições que era avaliar a política social do nosso país. Isso seria bem mais interessante do que tentar influenciar votos dos fiéis evangélicos a qualquer candidato.

Cristo não se envolvia em questões políticas, mas era preocupado com as questões sociais, principalmente com os pobres e miseráveis. Como me disse um amigo, poeta e escritor: “A Dilma foi eleita sem nenhuma grande surpresa. Agora meu dever é orar para que ela tenha um bom mandato e governe decentemente o Brasil. Não a partir de leis e diretrizes religiosas, mas se importando com as necessidades dos brasileiros, se ela fizer isso, será uma aliada de minha fé”.

De nada adiantou todo o alvoroço que Malafaia fez em seus programas de televisão, ambiente em que ele deveria tratar de assuntos relacionados a fé e não à política. O resultado final não foi aquele que outrora ele afirmou. Dessa vez os cristãos deste país não se deixaram influenciar pelos gritos do pastor em cima de um púlpito de igreja. Se Dilma é o melhor para o nosso país, os próximos quatro anos dirão. O que espero é que o pastor Malafaia tenha aprendido a lição e se cale daqui quatro anos.

Thiago Lima – estudante de Jornalismo

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